Saiba um pouco mais sobre o serviço dedo-duro que sacudiu as relações diplomáticas entre vários países ao publicar milhares de documentos secretos do governo dos Estados Unidos.
- Informações reveladoras vieram à tona por meio do vazamento de 251.287 telegramas de embaixadas estadunidenses por todo o mundo, o que consiste no maior vazamento de documentos confidenciais da história.
As publicações colocam diplomatas em situações embaraçosas e, na opinião do linguista e filósofo estadunidense Noam Chomsky, revelam o “profundo ódio pela democracia” por parte do governo dos EUA. O responsável por toda esta crise diplomática é o site WikiLeaks, um serviço especializado em centralizar vazamentos de informações confidenciais de governos e empresas.
Wikileaks
O site Wikileaks.org é uma organização independente, sem fins lucrativos e transnacional, hospedado na Suécia. Foi lançado em dezembro de 2006 e seu fundador e principal diretor é o jornalista, ex-hacker e ciberativista australiano Julian Assange. Apesar de a página levar o termo “Wiki”, ela não se encaixa neste padrão, pois não permite que todos os usuários façam modificações em seu conteúdo.
Antes de ficar famoso por desnudar uma face obscura da política externa dos EUA, o site e seu fundador ganharam prêmios ligados a novas mídias da revista britânica The Economist e da Anistia Internacional. O Mashable apontou o WikiLeaks em junho deste ano como o serviço mais inovador da tualidade no que diz respeito à publicação de notícias.
A primeira grande revelação: chacina no Iraque
Em 5 de abril de 2010 o WikiLeaks divulgou um vídeo confidencial do exército dos EUA, no qual pelo menos 12 civis são cruelmente assassinadas por militares em um helicóptero Apache. A chacina ocorreu em julho de 2007 em um subúrbio de Nova Bagdá, e entre os executados estão dois funcionários da agência de notícias Reuters.
Para saber mais, acesse o Collateral Murder, página especial com o vídeo e informações ligadas a este fato divulgados pelo WikiLeaks. AVISO: o vídeo contém cenas de violência e é inapropriado para menores de idade. Assista a ele por sua conta e risco.
Registros de guerra
Os outros dois grandes vazamentos do WikiLeaks ocorreram nos dias 25 de julho e 22 de outubro de 2010, com a revelação de registros e documentos ligados às guerras do Afeganistão e do Iraque. Mais de 400 mil documentos que compreendem boa parte da guerra são publicados e detalham inúmeros eventos que ocorreram no país médio-oriental.
No site Diary Dig você encontra todos os vazamentos relacionados aos registros das guerras do Iraque e do Afeganistão.
Cablegate e a crise diplomática
O episódio da liberação de mais de 250 mil comunicações confidenciais realizadas entre as embaixadas estadunidenses foi apelidado pelo WikiLeaks de “cablegate”. “Cables” (ou cabos, em português), é como são conhecidos estes tipos de mensagens. Os documentos falam de diversos países e líderes, e expõem membros do governo dos EUA em ações que beiram a espionagem.
As opiniões contidas nos telegramas colocaram os diplomatas em situações embaraçosas nos países em que se encontram e levaram figurões do alto escalão do governo Barack Obama e se retratarem com países com os quais os EUA mantêm relações. O material, contudo, está disponível na web e seus desdobramentos podem ser vistos na imprensa, na blogosfera e na opinião de políticos e intelectuais ao redor do planeta.
Acesse também o comunicado à imprensa do Cablegate e as milhares de publicações vazadas pelo site. A página contém materiais em português.
China vs. Google
Um exemplo de revelação feita pelo WikiLeaks e que chama a atenção dos estudiosos da Internet é o embate entre a Google e o governo chinês. Segundo dados revelados pelos vazamentos do último final de semana, o site de busca foi hackeado a mando de Pequim. O Google China teria sido atacado por funcionários do governo especializados em segurança.
As reações
O governo dos EUA, além de se manifestar publicamente para amenizar os efeitos da crise diplomática causada pelas revelações do WikiLeaks, promete investigar criminalmente o caso. O jovem militar Bradley Manning, 23 anos, ex-analista de inteligência do exército estadunidense, está preso e é um dos principais acusados pelo vazamento das informações.
Nas costas de Manning ainda pesam outras acusações: a vazar o vídeo em que uma dezena de civis iraquianos é assassinada e de ter baixado em seu computador mais de 150 mil documentos do Departamento de Estado, além de ter passado adiante parte deste montante.
Assange – o criador do site – já tem um mandado de prisão expedido em seu nome na Suécia por um suposto crime sexual, mas a importância de sua prisão parece ter aumentado devido à repercussão dos vazamentos. Ninguém sabe do seu paradeiro, mas ele pode ser preso em qualquer um dos 188 países-membros da Interpol.
Nos últimos dias o site WikiLeaks.org ficou fora do ar e muito se especulou sobre o fato. Um cracker assumiu a autoria do ataque, alegando em uma conta no Twitter que as revelações feitas pelo site colocaram em risco as relações dos EUA com outros países e também a vida de soldados do país.
O serviço estava armazenado no servidor da empresa de venda online Amazon, que cedeu às pressões do governo estadunidense e expulsou o WikiLeaks de seus domínios. Ao que tudo indica, o site agora está no servidor sueco Bahnof, famoso por funcionar dentro de um bunker subterrâneo e por ser à prova de ataques nucleares.
Além disso, o congressista republicano Peter King incitou o governo Barack Obama a classificar o WikiLeaks como uma “organização terrorista estrangeira”. Para ele, o serviço criado por Assange representa um perigo real à segurança nacional dos Estados Unidos e se enquadra nos critérios do país para definir se uma organização é terrorista.
Em contrapartida, Kintto Lucas, vice-ministro do Exterior do Equador, ofereceu residência a Assange. Segundo Lucas, o fundado do WikiLeaks poderia dar palestras sobre seu trabalho, além de se radicar no país sul-americano. O Equador, juntamente com Venezuela, Cuba e Bolívia, é parte de um grupo de países latino-americanos que faz forte oposição às políticas de Washington. Os quatro países são citados diversas vezes nos documentos vazados no último domingo.
Próxima vítima é um grande banco
Em entrevista publicada na revista Forbes desta segunda-feira, Julian Assange afirma que o “próximo alvo” é um grande banco dos Estados Unidos. Em outra entrevista, esta em 2009 para o Computerworld, o fundador do WikiLeaks afirmou que o site possui cinco gigabytes do disco rígido do computador de um executivo do Bank of America.
Na recente entrevista à Forbes, Assange não quis revelar o nome do banco, afirmando que os vazamentos publicados no site são minuciosamente analisados antes de irem ao ar. Ele ressaltou ainda que espera que as revelações sobre o banco, que serão feitas a partir do início de 2011, gerem investigações.
Nunca a internet havia sido palco de revelações tão grandes, o que, definitivamente, mostra o seu poder. O WikiLeaks revelou-se inovador não somente no jeito como dá a notícia, mas também no conteúdo de suas publicações.
Os vazamentos indicam que mesmo com o fim da Guerra Fria, espionagens e interferência estrangeira continuam ocorrendo não só na América Latina, mas em várias partes do mundo. O material disponibilizado no site criado por Julian Assange deve servir de matéria-prima para muitos estudos e publicações ao longo dos próximos anos, o que nos resta é aguardar.
Não deixe de registrar nos comentários a sua opinião a respeito da WikiLeaks e de seus vazamentos.
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