RIO - Os alimentos e os serviços deram o tom da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2010, também chamada de inflação oficial.
Do total de 5,91% acumulado pelo índice em 2010, os serviços e os alimentos responderam por 4,03 ponto percentual, ou 68,19% do total do IPCA.
Entre as contribuições individuais, as quatro maiores do ano passado foram de produtos alimentícios ou serviços, colaborando para que o IPCA de 2010 fosse o maior desde os 7,6% de 2004.
Os alimentos fecharam o ano passado com alta de 10,39%, impulsionados pela retomada da demanda externa, a forte demanda interna e problemas climáticos que limitaram a oferta.
O avanço do grupo voltou ao patamar de 2008, antes da crise internacional, quando alimentação e bebidas subiram 11,11% dentro do IPCA.
Entre os principais itens do ano passado, as carnes subiram 29,64% e contribuíram com 0,64 ponto percentual para o IPCA, no maior impacto individual em 2010.
Na sequência, vieram a refeição, com alta de 10,62% e impacto de 0,46 ponto percentual; o leite pasteurizado, com 18,92% e 0,18 ponto; o lanche, com 9,59% e 0,16 ponto; o feijão carioca, com 63,62% e 0,10 ponto; e o pão francês, com 8,55% e 0,10 ponto para o IPCA anual.
"Os alimentos foram determinantes no resultado da inflação em 2010. A taxa deles triplicou e produtos importantes aumentaram bem mais que a média", notou a coordenadora de índices de preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eulina Nunes dos Santos.
A técnica do IBGE lembrou o forte peso das carnes dentro do IPCA, de 2,61%, e ressaltou o retorno das exportações do produto, a seca que afetou as pastagens no Brasil e o abate de matrizes realizados em 2005, época de preços baixos, que limitou a oferta do produto no ano passado.
No caso dos feijões - que no geral subiram 51,49% no ano e com peso de 0,43 ponto percentual no IPCA - os baixos preços de 2009 levaram a uma redução das plantações em 2010, reduzindo a oferta.
Em contrapartida, o arroz subiu só 1,07% no ano passado, com contribuição próxima a zero para o IPCA. "O arroz salvou a pátria", brincou Eulina.
O efeito da maior renda disponível nas mãos dos brasileiros também foi sentido nos serviços. Os 20 principais itens do segmento contribuíram com 1,69 ponto percentual para o IPCA de 2010, com destaque para o empregado doméstico, com elevação de 11,82% e impacto de 0,40 ponto percentual; os colégios, com 6,64% e 0,32 ponto; o aluguel, com 7,42% e 0,21 ponto; e o condomínio, com 7,11% e 0,14 ponto em 2010.
"Mais emprego, mais renda, mais demanda", resumiu Eulina, recordando que, ao contrário do observado até 2006, os preços administrados foram os que contribuíram para segurar a inflação no ano passado. "Alguns administrados estão deixando de ser indexados unicamente pelos índices passados", acrescentou.
No ano passado, os administrados contribuíram com 0,76 ponto percentual para o IPCA, desaceleração em relação à contribuição de 1,07 ponto percentual para a inflação de 2009. As grandes altas neste grupo foram dos ônibus urbanos, com 7,16% e impacto de 0,28 ponto percentual; e dos planos de saúde, com 5,63% e 0,24 ponto percentual.
"Poucas regiões metropolitanas aumentaram valor das passagens em 2010 nos ônibus e o resultado foi puxado pela alta de 17,39% em São Paulo", disse Eulina.
Em dezembro, IPCA desacelerou para 0,63%, contra 0,83% em novembro. Ao contrário do índice anual, a desaceleração foi puxada pelos alimentos, que subiram 1,32% contra 2,22% em novembro.
Para janeiro, as principais influências de alta entre os administrados estão nos transportes. Os ônibus urbanos trarão impacto em São Paulo, com 11,10% de reajuste a partir de 5 de janeiro; em Belo Horizonte, com 6,5% a partir de 29 de dezembro; e em Salvador, com 8,70% em 2 de janeiro. No Rio de Janeiro, os ônibus intermunicipais subiram 5,63% em 2 de janeiro.
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